sexta-feira, 22 de julho de 2011



Morre lentamente quem se transforma em escravo do hábito, repetindo todos os dias os mesmos trajetos, quem não muda de marca, não se arrisca a vestir uma nova cor ou não conversa com quem não conhece.
Morre lentamente quem faz da televisão o seu guru.
Morre lentamente quem evita uma paixão, quem prefere o negro sobre o branco e os pontos sobre os “is” em detrimento de um redemoinho de emoções, justamente as que resgatam o brilho dos olhos, sorrisos dos bocejos, corações aos tropeços e sentimentos.
Morre lentamente quem não vira a mesa quando está infeliz com o seu trabalho, quem não arrisca o certo pelo incerto para ir atrás de um sonho, quem não se permite pelo menos uma vez na vida, fugir dos conselhos sensatos.
Morre lentamente quem não viaja, quem não lê, quem não ouve música, quem não encontra graça em si mesmo.
Morre lentamente quem destrói o seu amor-próprio, quem não se deixa ajudar.
Morre lentamente, quem passa os dias queixando-se da sua má sorte ou da chuva incessante.
Morre lentamente, quem abandona um projeto antes de iniciá-lo, não pergunta sobre um assunto que desconhece ou não responde quando lhe indagam sobre algo que sabe.
Evitemos a morte em doses suaves, recordando sempre que estar vivo exige um feito muito maior que o simples fato de respirar. Somente a ardente paciência fará com que conquistemos uma esplêndida felicidade.


- Pablo Neruda

quarta-feira, 20 de julho de 2011



Volta para mim ainda que tarde
Nas asas do esquecimento
Ainda que chega a hora, que seja amizade

Volta que ainda não acabou
Na alma do perdão
Ainda que seja cedo, que não se entregou

Volta, pois não te peço ainda
Nenhuma solução
Ainda que seja em vão, tristeza infinda

Volta para mim, que não te quero em dor
Nas ruas, na lucidez
Ainda que seja tarde, ainda que seja amor

sábado, 16 de julho de 2011



Amar é ridículo
Não vejo motivo para amar se tão só vivo de alegria
Se vivo da carne, ta taça de vinho
Não vejo motivo para ter um, se posso ter a minha vontade
Nem porque esconder o promíscuo, se o bom da vida está lá.

terça-feira, 12 de julho de 2011



Partir

Em mim você fez parte
Você chora e eu parto
Porto porque você partiu

Partiu porque me partiu
Partimos corações em partes
E partes agora porque me viu partir

Vamos juntos, partamos
Para bem longe que parta
Essa saudade em partes

Partir e te ver parir, me dói em partes.



Viagem

Presumi felicidade breve
Despertei demônios por fadiga
Na minha educação que esteve
Presente na aurora de minha vida

Libertai mulher, desta masmorra
Viver de corpo livre na madorra
Soltar nesta harmonia
Ruídos de profunda sinfonia

Fazer com que esta viagem
Seja de grão a árvore da imagem
Das flores da mocidade
Que deixei só na saudade

sexta-feira, 8 de julho de 2011



Pôr-se o copo d’agua na pia
Acordas na alvorada
Para fazer sinestesia
Sobre a dor desesperada

Se cá jazemos sós
És porque mora
Aquela ária que chora
Foi feita para nós

Pegue o lume-pronto, a companhia
Vamos tragar o aroma
Da quietude e da solidão
Para abusar da sensação
Meu amor, meu corpo aclama
Aquela dose de calmaria

Nas costas, trago o fardo
Nos seios a dor da alma
Nas pernas, o rancor do toque
No frescor da juventude eu guardo
E sendo assim que me sufoque
Porque do amor me poupo esforços
E é do amor que eu cerro os olhos

Para sempre.

segunda-feira, 4 de julho de 2011




O gato e a moça

A moça é o gato
O gato é a moça
Que come no prato
Que banha na poça

O gato que canta
Que gosta do rio
Que o pássaro espanta
Que morre de frio

Ele mia lá fora
Ele brinca na louça
É o gato que mora
Na alma da moça


                                                             Valesca A.Rennó




Quero que saiba amor
Que talvez por tão severa vida
Jamais verei teus encantos
Quero que este seu brilho possa raiar
Em meu claro vazio.


                                                          ValescaA.Rennó