sábado, 7 de fevereiro de 2015

Minha família, em sua atual conjuntura, pertence a classe C/D. Foi uma escolha primitiva do meu pai, para o azar de todos. Cresci vendo faltar coisas básicas dentro da minha própria casa, e, dessa relação de dependência do meu pai aos bens que pertenciam ao meu avô. Naquela bela puxada de tapete familiar, de repente, nos vimos sem nada. Meu pai nunca pensou em crescer na vida - em nada - e carregou o restante da família para o mesmo buraco; sou dessas filhas que se mata de tanto estudar por rebeldia, por ter visto a vida passar e não ter tido os mesmos privilégios que outras meninas da minha idade tiveram. Meu pai é o típico trabalhador que vive de dois mil ridículos reais para sustentar uma família de 5 pessoas, mas não o culpo por essa mentalidade pequena. Meu pai foi e ainda é uma construção social da escravidão mental moderna. Ele é aquele preguinho minúsculo responsável por sustentar toda a estrutura de um relógio, este no qual funciona o sistema privado. É aquele cara que trabalha oito horas por dia sentando em uma cadeira, administrando o que entra ou sai da empresa; um serviço psicologicamente mecânico. Chega em casa e liga a televisão; o que está passando? Cidade Alerta do Marcelo Resende; toma banho, enche o saco com alguma bobagem qualquer e como todo pai de família classe média, não abre mão de cobrar dos filhos que entre dinheiro em casa. E como todo pai de classe média, exige satisfação dos gastos excessivos. E como todo pai de classe média, adora perguntar quando os filhos sairão de casa. As formas de manutenção da economia é relativamente igual a um anticoncepcional: você só começa a notar os efeitos colaterais depois de muitos anos dependendo dele. E esses efeitos colaterais são lentos e graduais, vão segregando a vida do trabalhador aos poucos. O contato com a família vai diminuindo e as cobranças aumentando.